O que é Transe Hipnótico
Descrição: ”Parece-me ser o transe hipnótico tão somente um estado diferente de funcionamento do cérebro, que não é sono mas tão natural quanto. Afinal “estamos em transe hipnótico” uma boa parte do tempo, embora não percebamos: quando estamos dirigindo, lendo, trabalhando, ou seja em um estado de concentração profunda, com a memória ampliada, momento em que as mudanças de comportamento e alterações biológicas ocorrem de forma natural, sempre com a permissão e aceitação da pessoa”... (Dolores Rodriguez Barreiro)
"A aflição sofrida pelo corpo, a alma enxerga muito bem com os olhos cerrados". (Hipócrates)
...ou como refere o Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos: “Hipnose é um estreitamento de consciência, geralmente provocado artificialmente, que se parece com o sono, porém dele se distingue fisiologicamente, e existem dois tipos de transe hipnótico: ativo ou alerta onde a pessoa responde rapidamente e o tipo passivo ou letárgico cujo relaxamento muscular predomina, a pessoa entra em tal estado de flacidez que tem dificuldade para levantar um braço ou falar”. Os dicionários Aurélio e Michaelis coincidem na definição de transe como situação angustiosa ou difícil, momento crítico, transes religiosos até transe hipnótico. A história da hipnose confunde-se com a do homem, uma vez que é utilizada desde os primórdios das civilizações, com provas arqueológicos desse período onde aparecem figuras de médicos fazendo intervenções cirúrgicas de grande porte para a época e essas representações dos médicos, induzindo ao transe hipnótico, emitiam sinais “mágicos ou “saíam raios dos olhos”, e dessa forma as doença s eram tratadas. É descrito um tratamento nos papiros de Ebers, um dos mais antigos relatos de cura através da hipnose.
A “magia” atribuída à hipnose está diretamente ligada a forma como era praticada seja por cantos rítmicos, batidas monótonas de tambores, mantras terapêuticos, toque real- o rei toca o rei cura( Carlos V rei da França, o sábio). Na Idade Média pessoas foram mortas ou perseguidas por fazerem uso da Hipnose, eram consideradas bruxas ou satanistas. De qualquer forma mesmo sendo chamadas de curandeirismo, cerimônias religiosas o fato é que tinha como ponto essencial o foco central da atenção, um dos fatores responsáveis por 95% da indução ao transe hipnótico. Uma boa parte da história contribuiu para essa falsa identidade mística; essa visão mágica da hipnose vai dando lugar a pesquisas mais sérias, científicas em que o seu conceito vai sendo alterado. Por volta de 1777, Franz Anton Mesmer desenvolve a teoria do magnetismo animal(mesmerismo) “fluidos magnéticos” através do baquet, que induz ao estado hipnótico (transe);
Marquês de Puysegur que magnetizava objetos, inclusive um olmo nos quais o paciente entrava em transe ao tocá-los. Esse transe era chamado de sonambulismo, no qual as pessoas não mais entravam em crise e sim em um estado calmo de relaxamento; Abade Faria que em 1814 sugere que os fenômenos que ocorriam com Mesmer não eram causados pelo magnetismo animal e sim pela sugestão. Em 1842 a palavra mesmerismo é renomeada neuro-hipnotismo, depois para hipnotismo por James Braid. A corruptela de hipnotismo gerou a palavra hipnose, utilizada até hoje. Algumas de suas contribuições persistem atualmente como sendo a hipnose uma poderosa ferramenta e que deve ser limitada aos profissionais da saúde (médicos e dentistas, posteriormente os psicólogos); que embora a hipnose fosse capaz de tratar e curar várias doenças não era uma panacéia e sim mais um instrumento disponível ao médico assim como os medicamentos, condutas e tudo mais. Com exceção de Mesmer, o mais conhecido é o Dr. James Esdaile, que realizou mais cirurgias sob hipnoanestesia que qualquer outro médico, mesmo até a presente data. Sua primeira operação sob hipnose foi no dia 4 de abril de 1845, em um hindu condenado à prisão que tinha dupla hidrocele, no hospital de Hooghly. Fez milhares de cirurgias sem dor e mais de 300 grandes cirurgias sob hipnose. Mais ou menos nessa época foi introduzido o clorofórmio e em seguida éter como anestésicos.
Chegamos, pois, à hipnose moderna cujo “pai” é o Dr. Ambroise-Auguste Liebeault que concluiu e publicou que todos os fenômenos do hipnotismo são subjetivos. Vendeu uma única cópia do seu livro que foi para o Dr. Bernheim, que a princípio achou que Liebeault era um charlatão e posteriormente se tornou seu amigo e aluno; Charcot, Freud, Josef Breuer e outros teóricos também fizeram uso da hipnose.
Utilizada para a retirada de sintomas e com o a chegada da anestesia química e da psicanálise, a hipnose entra em um período de ostracismo e ressurge durante a primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) e segunda Guerra Mundial(1938-1945) reacendendo o valor prático e científico da hipnoanalgesia em jovens feridos ou nos campos de concentração onde os anestésicos eram utilizados somente para grandes intervenções cirúrgicas. As pessoas eram colocadas em transe hipnótico tanto para alívio de suas dores como para cirurgias. Novas pesquisas foram feitas ratificando o valor da técnica hipnótica no alívio das tensões, anestesia e conforto emocional, firmando-se definitivamente na prática médica e em Psicoterapia como mais uma ferramenta objetivando tratar os casos de neuroses de guerra.
Alguns autores são precisos no que refere ao transe hipnótico e a escala de profundidade. Liebeault divide o transe hipnótico em 5 fases ou níveis, Bernheim em 9 e Davies e Husban , apresentam uma escala com trinta níveis e suas características correspondentes, Lecron e Bordeaux apresenta uma escala considerada como a mais completa, dividem o estado hipnótico em seis fases e suas respectivas mudanças fisiológicas espontâneas que se produzem naturalmente durante o transe e a maioria dos autores a dividem 3 fases: superficial, média e profunda.
A escala de profundidade hipnótica de José Torres Nory, utilizada até a presente data, se distribui, em uma primeira sessão em 5 etapas e 14 passos:
Não hipnotizáveis.................5%
1 – Etapa hipnoidal 95%
2 – Etapa leve 85%
3 – Etapa média 60%
4 – Etapa profunda 15%
5 – Etapa sonambúlica 10%
Carl Ransom Rogers no final de sua vida, passa a demonstrar interesse pela dimensão espiritual do homem, sua integração numa globalidade que o transcende e que se insere numa harmonia global do universo. Conscientizou- se da importância da dimensão da "presença" na terapia, que ele associa a uma forma de comunicação transpessoal na qual a intuição tem um papel importante. Apresenta-a como um novo campo a explorar no âmbito da sua abordagem e no domínio daquilo que se poderia chamar, talvez, os estados alterados de consciência. Publicado na Revista de Estudos Rogerianos "A Pessoa como Centro" Nº. 3 Maio 1999
Embora Rogers (1.987) não tenha trabalhado com hipnose, a sua teoria coincide com a mesma uma vez que é totalmente voltada para a força, dinâmica, aceitação e recursos naturais(sabedoria, criatividade, compreensão, intuição) inerentes à pessoa, sendo um deles a intuição que nada mais é que “o maestro da orquestra” que dirige nosso intelecto, corpo, emoções e instintos para criarem uma só melodia cujo objetivo é o bem estar físico e emocional ( objetivo da hipnose) e que segue os mesmos pilares básicos : capacidade de ouvir, aceitação, congruência e permissão.
Dessa maneira a hipnose ocorre de forma natural, respeitando o ritmo e o tempo da pessoa, onde o hipnoterapeuta é um facilitador ou “acompanhante” do cliente em sua viagem ao interior de si mesmo. O estado de permissividade da pessoa (diretamente ligado à aceitação e empatia na relação psico/cliente) conduz ao relaxamento, portanto à hipnose.
A pessoa permite-se: tensão inicial; relaxamento no seu tempo e profundidade em que expressa livremente seus sentimentos mais profundos, aceitos e respeitados pelo hipnoterapeuta e encontra, dentro de si, as ferramentas de resolução de seus conflitos. A hipnose é natural, a pessoa se permite a desconstrução e reconstrução de um self mais fortalecido e saudável, frente a descoberta de suas capacidades internas.